Um painel pouco complexo
Suzana Faini em boa interpretação em Silêncio!, montagem em cartaz no Espaço Sesc, em Copacabana (Foto: Renato Mangolin)
A dramaturga Renata Mizrahi radiografa, em Silêncio!, uma trama familiar durante a reunião do shabat. Enquanto alguns impõem suas presenças de modo contundente, outros se deixam comandar. Esta estrutura viciada, prolongada há décadas, está prestes a ser rompida por meio da revelação de fatos até então ocultados.
A autora insere na peça o tema das judias polacas, sobre o qual tem se dedicado há certo tempo. A inclusão, porém, é realizada de maneira um tanto artificial. De dado momento em diante, o universo das polacas começa a ganhar surpreendente importância dentro da peça, destaque que Mizrahi procura “justificar” por meio das verdades interditadas que vem à tona no previsível desenlace catártico. E a consistência da pesquisa da autora não desponta, tendo em vista que a polêmica das polacas fica praticamente reduzida à oposição entre a revolta da matriarca e à defesa de uma das netas.
Além disso, Renata Mizrahi constrói personagens destituídos de complexidade. Cada um realça determinada característica preponderante. Há a matriarca autoritária, o patriarca passivo, a filha submissa, o genro opressor, a neta contestadora e a outra neta bem comportada. Como os personagens possuem perfis sem variação, o texto vai se tornando reiterativo no decorrer do espetáculo. O objetivo de Mizrahi parece residir na exposição da estagnação, da lógica de funcionamento cristalizada estabelecida entre os integrantes da família, mas os personagens precisariam se manter interessantes dentro da repetição – o que não acontece.
Essa limitação afeta – pelo menos, em parte – as possibilidades interpretativas do elenco. Ainda assim, Suzana Faini, Jitman Vibranovski, Karen Coelho, Gabriela Estevão, Alexandre Mofati, Verônica Reis e Vicente Coelho evidenciam, em graus distintos, fluência em cena, cabendo chamar atenção para a força de Faini, não só quando porta a palavra como nos instantes finais, nos quais permanece em silêncio.
Nello Marrese, responsável pela cenografia, utiliza elementos simples para criar a ambientação do jantar familiar. A iluminação Renato Machado esquenta a cena em certas passagens. Os figurinos de Bruno Perlatto acentuam o desenho caricatural dos personagens, na medida em que priorizam a definição em detrimento da sugestão, sem espaço para sutilezas.
Talvez os problemas detectados na peça, que encerra temporada no próximo domingo na arena do Sesc Copacabana, não tenham sido minimizados porque a autora acumulou a função de direção (em parceria com Priscila Vidca), diminuindo a chance de adquirir distanciamento em relação ao material original. Vale registrar, em todo caso, a disposição de Renata Mizrahi, que apresenta ao público um pouco do mundo judaico que conhece bem.