Precisão no humor
Luiz Fernando Guimarães e Gregório Duvivier: afinados em cena (Foto: Marcos Mesquita)
Charles Möeller e Claudio Botelho desenvolveram algumas vertentes simultâneas desde que firmaram parceria. A dupla, que explodiu com Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava, realizou musicais com identidade própria (As Malvadas, 7 – O – Musical); montagens de porte reduzido (Um Dia de Sol em Shangrilá, Beatles num Céu de Diamantes); espetáculos grandiosos decorrentes de obras muito conhecidas (A Noviça Rebelde, Hair, O Violinista no Telhado, O Mágico de Oz, Sweet Charity); encenações de teor dramático, pautadas pela preocupação com a dramaturgia (Gypsy, Gloriosa, Judy Garland); trabalhos em que o texto propriamente dito era dispensado (Tudo é Jazz, Milton Nascimento – Nada será como Antes); projetos mergulhados no repertório carnavalesco (Sassaricando, É com esse que eu vou); e outros nos quais evidenciaram vínculo com compositores específicos, como Stephen Sondheim (Company, Lado a Lado com Sondheim).
Como Vencer na Vida sem Fazer Força, recente produção de Möeller/Botelho, talvez resista a enquadramentos. Reúne, em todo caso, determinadas características valorizadas por ambos, que propõem uma nova versão de uma obra já encenada (no teatro brasileiro houve uma montagem em 1964, com Procópio Ferreira e Marília Pêra), voltam a se aproximar do formato grandioso de espetáculo e investem na dramaturgia (texto de Abe Burrows, Jack Weinstock e Willie Gilbert escorado no livro de Stepherd Mead). A história gira em torno da trajetória de J. Pierrepont Finch, limpador de janelas que não hesita em manipular os poderosos para ascender numa empresa repleta de funcionários pouco ou nada competentes. O resultado é bastante satisfatório na maior parte do tempo, sofrendo, porém, com a duração excessiva. No segundo ato, as situações apresentadas soam esgarçadas.
Seguro na direção, Charles Möeller conta com um elenco afinado que exibe timing preciso. Luiz Fernando Guimarães – como J.B. Biggley, o dono da empresa – se vale com habilidade de sua personalidade interpretativa. Gregório Duvivier é sempre carismático, injetando ritmo e fluência ao texto. Adriana Garambone faz excelente uso de um tom estridente de voz e confirma as suas qualidades de comediante. A primeira passagem em que contracena com Luiz Fernando Guimarães é, possivelmente, a melhor da montagem. André Loddi, mesmo sem divertir tanto com os exageros do personagem, se impõe em cena. Letícia Collin transmite a docilidade que a mocinha pede. Gottsha ganha o palco com sua bela voz. Ada Chaseliov tem presença correta como a secretária de Biggley. São boas as cenas de conjunto, a exemplo daquela em que Finch se esforça para reverter sua demissão.
O requinte técnico se tornou uma marca das produções de Möeller/Botelho e não é diferente em Como vencer na Vida sem Fazer Força. A cenografia de Rogério Falcão reconstitui com criatividade o espaço asséptico de uma empresa por meio de imponentes painéis. Apenas os móveis parecem pequenos para a dimensão do palco do Teatro Oi Casa Grande. Os figurinos de Marcelo Pies contrastam as cores fortes dos vestidos com a padronização dos ternos. A iluminação de Paulo Cesar Medeiros esquenta a frieza do ambiente empresarial através de tonalidades intensas. A música de Frank Loesser, com versão brasileira de Claudio Botelho, tem seu auge em O Clube dos Irmãos, ao final do espetáculo.
carmattos
19 de março de 2013 @ 11:22
Bem-vindo, Daniel. A blogosfera estava precisando de você.
Susana
20 de março de 2013 @ 13:14
Parabéns, Daniel, ótimo trabalho.