Obra ganha corpo no palco
Felipe Lima e Pablo Sanábio em Fonchito e a Lua, em cartaz no CCBB (Foto: Leo Aversa)
A adaptação de Fonchito e a Lua para teatro representou um desafio. Como a obra original de Mario Vargas Llosa é muito sintética, Pedro Brício, responsável pela dramaturgia, decidiu expandi-la por meio de novos personagens e situações. Enquanto o livro conta com apenas dois – Fonchito e Nereida –, além de poucos mencionados – como a mãe de Nereida –, o texto teatral apresenta vários outros – os amigos de Fonchito, a mãe dele e figuras mais periféricas, como a professora e o motorista.
Pedro Brício avoluma a história sem perder de vista o foco: a paixão do menino Fonchito por Nereida, sua amiga, que pede para ele trazer a lua como prova de seu amor. Brício esgarça algumas circunstâncias – como a de Fonchito e Nereida tentando encontrar dia e horário em comum para verem a lua “capturada” – e concebe outras, valorizando determinadas questões – como o fato de que as relações sobrevivem mesmo na distância, percepção evidenciada a partir do anúncio da mudança de Leon, um dos amigos de Fonchito, do Peru, onde a história se passa, para o Brasil. Brício faz bem em não alterar o contexto, mantendo referências importantes, como ao céu nublado de Lima. Em comparação com o livro, o texto da peça é menos intimista, mais feérico. As criações dos personagens dos amigos de Fonchito são ótimas. Mas talvez caiba problematizar a necessidade da existência dos adultos, considerando que tudo o que acontece em cena diz respeito às descobertas do mundo pelas crianças. E as eventuais balizas impostas pelos mais velhos poderiam ser resolvidas através de narração.
A encenação assinada por Daniel Herz realça o artesanal, característica especialmente sublinhada na cenografia (de Clarissa Neves e Paulo Waisberg), composta por estandartes pendurados, montes de caixas, palha revestindo chão e parede e destaque para o vermelho que contrasta com as listras e estampas em preto e branco dos figurinos (de Ronaldo Fraga). O diretor busca o poético, a exemplo do instante em que as lágrimas de Fonchito caídas sobre uma bacia espelham a lua, “materializada” por meio da iluminação de Aurélio de Simoni. A trilha sonora (de Paulo Santos) tem a marca do grupo Uakti. Os atores ajudam a instalar a atmosfera lúdica que atravessa o espetáculo e dão vazão à energia endiabrada própria das crianças. São os casos de Pablo Sanábio, Felipe Lima e Marino Rocha, com Thais Belchior sintonizada com uma personagem com menos adrenalina e Raquel Rocha se desdobrando nas composições dos tipos adultos.
Fonchito e a Lua resulta da dedicação continuada de profissionais (Herz, Brício, Sanábio), normalmente ligados ao “teatro adulto”, à produção infanto-juvenil. Esse trabalho inaugura ainda um novo espaço do Centro Cultural Banco do Brasil, até então não utilizado para teatro, aqui bem aproveitado em suas possibilidades.
carmattos
24 de fevereiro de 2014 @ 20:06
Que espaço novo é esse? Fica em que andar?
danielschenker
27 de fevereiro de 2014 @ 13:34
Fica no primeiro andar. A subida mais próxima é por aquele elevador de serviço perto dos banheiros do andar térreo.