Vivacidade em proposta desgastada
Heloisa Périssé: último dia no Teatro Vannucci (Foto: Guga Melgar)
E Foram (Quase) Felizes para Sempre – montagem de Susana Garcia para o texto de Heloisa Périssé, que acumula as funções de autora e atriz nesse monólogo que termina temporada hoje no Teatro Vannucci – entrelaça duas tendências dramatúrgicas de espetáculos de mercado atuais: o desejo de suscitar identificação no público por meio de tipos facilmente reconhecíveis; e o de servir de prova da versatilidade de um ator/uma atriz, que se desdobra entre vários personagens. Há, nesse sentido, um caráter de exibição de recursos e, ao mesmo tempo, uma afirmação do teatral através da capacidade do intérprete de se metamorfosear sem se apoiar em bengalas, como adereços ou maquiagem.
Estes mecanismos ficam evidenciados no texto de Périssé, centrado na jornada desestabilizadora de uma escritora workaholic, que, a partir de uma crise no instante do lançamento do seu livro, traz à tona a sua instabilidade afetiva. O esquematismo da dramaturgia é, em alguma medida, minimizado pela precisão de Heloisa Périssé na construção de diversos personagens. A atriz imprime desenhos de contornos nítidos, concretos, sem incorrer na armadilha da mera caricatura, ainda que os personagens sejam marcados por características predominantes (a velocidade ralentada da fala, o som ininteligível das palavras ao final das frases). Entre as figuras evocadas, vale destacar a divertida composição da psicóloga. Susana Garcia conduz a cena com ritmo e – não poderia ser diferente – deixa espaço aberto para Périssé, que, com sua presença, empresta vivacidade a uma proposta um tanto desgastada.