Irretocável painel da decadência
Paulo Verlings e Marcelo Olinto em Conselho de Classe (Foto: Dalton Valério)
Por meio de uma conjugação precisa de humor e melancolia, Jô Bilac descortina, em Conselho de Classe, um painel da decadência do sistema educacional num mundo marcado pela derrocada dos valores básicos de convivência. O autor entrelaça com habilidade a perspectiva panorâmica com a individual, a julgar pela construção das personagens: há a professora desiludida que procura complementar a escassa renda com a comercialização de produtos, a veterana que vive esquecida na biblioteca, a descrente com a chance de reversão de quadro tão terminal e a que conserva certo grau de idealismo a despeito do ambiente degradado. Todas reagem, de forma diferenciada, à chegada de um novo diretor, inicialmente disposto a reconciliar a escola com a ordem perdida. É possível perceber uma dose de carinho na criação dessas figuras, algo que lembra, mesmo que ao longe, a dramaturgia de Miguel Falabella. Desenvolvendo com sensibilidade uma situação bastante simples – uma reunião de professoras, no auge do verão carioca, motivada pelo afastamento da diretora a partir de uma rebelião estudantil causada por fato banal –, o autor apresenta a sua melhor peça desde Rebú.
Projeto concebido para a comemoração dos 25 anos da Cia. dos Atores, Conselho de Classe reúne integrantes do grupo (ainda que Paulo Verlings, da Cia. Teatro Independente, que encenou Rebú, Leonardo Netto e Thierry Trémouroux não pertençam ao coletivo), tanto no elenco quanto na direção, a cargo de Bel Garcia e Susana Ribeiro. Ambas revelam sintonia com o tom do texto e acertam ao fazer com que as personagens femininas sejam interpretadas por atores sem qualquer sinal de caricatura ou de composição mais evidenciada. Deve ser creditado à direção o mérito por um rendimento tão equilibrado. Afiados no timing da comédia, os atores – Cesar Augusto, Leonardo Netto, Marcelo Olinto, Paulo Verlings e Thierry Trémouroux – desenham personagens plenos de humanidade, muito reconhecíveis. O ótimo resultado do trabalho é realçado pela cenografia de Aurora dos Campos – que reproduz de modo palpável a atmosfera arruinada do ginásio da escola através dos objetos (cadeiras e ventilador envelhecidos) e aproveita bem o espaço do Mezanino do Sesc Copacabana, estendendo a ação para além dos limites do palco; pelos figurinos de Rô Nascimento e Ticiana Passos, que sublinham as características de cada personagem; e pela iluminação de Maneco Quinderé, que individualiza os “tipos” do texto de Jô Bilac.