Palco tomado por presença furiosa
Eriberto Leão em Jim: desafio técnico em espetáculo catártico (Foto: Guilherme Forton)
Sem a ambição de biografar Jim Morrison, Walter Daguerre trilha percurso mais difícil, buscando captar o espírito incendiário do cantor. Abre mão de fatos concretos – mencionando, porém, as influências norteadoras e fazendo uma oportuna e discreta conexão com o Brasil, a exemplo da efervescência do rock em Brasília – e apresenta uma jornada subjetiva e catártica. O dramaturgo, que dá continuidade às parcerias com Paulo de Moraes e Eriberto Leão depois de A Mecânica das Borboletas, valoriza a música, mas sem que o texto se reduza a mero elo entre os números.
De qualquer modo, Jim desponta como veículo para um ator, apesar da inclusão de uma figura feminina (interpretada por Renata Guida). Eriberto Leão assume tom passional que, se por um lado evidencia sua dedicação ao projeto, por outro uniformiza, em alguma medida, sua atuação. Sintonizado com a proposta da encenação de Paulo de Moraes, que procura contagiar o público por meio de uma presença que se impõe como força furiosa, o ator não é desafiado pelo contato com a palavra, ainda que cumpra satisfatoriamente as exigências técnicas da empreitada.
Se a plateia sai eletrizada do aconchegante Teatro do Leblon / Sala Tônia Carrero, o mérito deve ser, em boa parte, creditado à direção musical de Ricco Vianna – os músicos José Luiz Zambianchi, Felipe Barão e Rorato foram acomodados fora do palco. A cenografia, do próprio Paulo de Moraes, composta por um piano e por microfones espalhados que amplificam a evocação de Jim Morrison, deixa espaço livre para o ator evoluir de forma contundente.
A iluminação de Maneco Quinderé não se limita à intensidade do show. Tem papel preponderante no espetáculo, conforme comprovado na cena final. Trata-se de um trabalho autônomo, mas integrado ao todo, que cria momentos de impacto, como o instante em que aprisiona o personagem dentro de um pequeno círculo.