Ferramentas de convencimento
Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia em Palhaços, em cartaz no Teatro Poeirinha (Foto: Tathy Yazigi)
Timochenko Wehbi traz à tona, em Palhaços, uma das maiores especificidades do trabalho do ator: a capacidade de convencer quem assiste a partir de um relato inevitavelmente ficcional, mesmo quando escorado em acontecimentos reais relacionados à trajetória do intérprete. Essa dimensão valoriza o texto para além do anunciado a princípio – o confronto de cada um com as próprias mazelas, perspectiva dolorosa contrastada com certas convenções do ambiente (um circo) e da profissão (palhaço) de um dos personagens.
Na situação-base apresentada por Wehbi, o palhaço Careta recebe em seu camarim a visita de um fã, Benvindo. O encontro despretensioso evolui rumo a um embate suscitado por revelações pessoais. Benvindo tem uma construção mais evidente que a de Careta, na medida em que o desenvolvimento da peça confirma as suas características iniciais de indivíduo asséptico e reprimido, imerso num cotidiano sem grandes expectativas. Já o palhaço desponta um pouco menos previsível, até porque importa mais constatar a habilidade com que maneja determinadas ferramentas interpretativas para convencer o outro do que saber se as histórias são referentes à sua vida.
A discussão em torno da verdade no trabalho do ator pode ser estendida aos desempenhos de Danilo Grangheia e Dagoberto Feliz. O primeiro sublinha, por meio de uma partitura vocal de inegável resultado cômico, as peculiaridades do fã, buscando um equilíbrio delicado entre a composição física bem marcada e a projeção da humanidade do personagem. O segundo desconstrói, através de uma presença ocasionalmente contundente, a figura afável do palhaço. O diretor Gabriel Carmona reforça a vertente na qual o texto de Wehbi parece se inscrever: a de veículo para atores. A cena é simples, com cenário de Flavio Tolezani reproduzindo o camarim de Careta, com araras repletas de roupas – e um espelho, elemento algo óbvio no realce do confronto dos personagens com suas imagens desconstruídas e na “inclusão” do público –, figurinos de Daniel Infantini obedecendo às indicações lançadas pelo autor acerca de Careta e Benvindo e iluminação de Erike Busoni evocando a atmosfera lúdica dos circos mambembes.
Danilo Grangheia
5 de agosto de 2013 @ 04:40
Olá, meu caro Daniel…
Muitíssimo obrigado pelas palavras. Para nós, equipe dos Palhaços, é sempre uma alegria dividir a experiência. E melhor ainda quando essa experiência proporciona algum desenvolvimento crítico, cada vez mais raro infelizmente.
Valeu sobretudo pelo encontro.
Forte abraço.
Danilo Grangheia