Contrastes em extensa programação
Rodrigo Pandolfo, Leandra Leal, Claudia Abreu e Luiz Henrique Nogueira em PI – Panorâmica Insana (Foto: Annelize Tozetto)
A Mostra 2019 do Festival de Teatro de Curitiba, que termina no próximo domingo, mirou na diversidade. O contraste impera na programação, concebida pela curadoria de Guilherme Weber e Marcio Abreu, a julgar pelos formatos díspares dos espetáculos selecionados ou convidados para se apresentarem na grade oficial. Há monólogos (Ícaro, com Luciano Mallmann, Recital da Onça, com Regina Casé, Sísifo.Gif, com Gregório Duvivier, Tráfico, com Wilderman García Bultrago, Tripas, com Ricardo Kosovski, Uma Frase para minha Mãe, com Ana Kfouri), musicais de porte considerável (O Frenético Dancin Days), propostas marcadas pelo engajamento político (Elza, Isto é um Negro?, Navalha na Carne Negra, Quando Quebra Queima), trabalhos que resultam de percursos continuados de companhias (Odisseia, da Cia. Hiato, Outros, do Grupo Galpão), montagens que evidenciam assinaturas autorais de encenadores (PI – Panorâmica Insana, a cargo de Bia Lessa, Relatos Efêmeros da França Antártica, de Francisco Carlos, e Peça para Adultos feita por Crianças, de Elisa Ohtake), projetos fincados em interfaces com outras manifestações artísticas, como a dança (Fúria, criação de Lia Rodrigues) e o multimídia (Dogville, transposição do filme de Lars von Trier por Zé Henrique de Paula), espetáculos inspirados em modelos estrangeiros (As Comadres) e produções que prestam homenagens a artistas emblemáticos, como Tônia Carrero (Navalha na Carne) e Antonio Abujamra (Abujamra Presente).
Paralelamente a essa programação, duas mostras ganharam destaque: a dedicada à companhia Os Satyros, sediada em São Paulo, conduzida por Rodolfo García Vasquez e Ivam Cabral, composta por quatro encenações – Mississipi, Cabaret Transperipatético, Todos os Sonhos do Mundo e O Rei de Sodoma –, e a comemorativa dos 15 anos da Marcos Damaceno Companhia de Teatro, sediada em Curitiba, também integrada por quatro montagens – Árvores Abatidas ou para Luis Melo, Homem ao Vento, Psicose 4h48 e Artista de Fuga, todas com Rosana Stavis, atriz notável no domínio de seus recursos interpretativos. As demais mostras, pertencentes ao Fringe, parecem cumprir uma importante função social ao reunirem trabalhos de regiões diferentes, algumas pouco conhecidas pela produção teatral. No entanto, soaram menos expressivas sob o ponto de vista artístico, distantes das instigantes curadorias que nortearam, nos últimos anos, essa extensa parte do Festival de Curitiba, geralmente formada por espetáculos incluídos por ordem de inscrição. Não significa, porém, que o espectador disposto a garimpar não possa se deparar com montagens interessantes. Seja como for, para além de tudo o que foi apresentado, o festival apostou em oportunos encontros – a exemplo do realizado com a encenadora Ariane Mnouchkine.
O crítico viajou a convite da organização do festival