Desafios de um teatro repleto de lacunas
Daniel Rocha e Hugo Bonemer em Frames, em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim (Foto: Cadu Silva)
Franz Keppler apresenta – em Frames, Nossa Diferença Liberta – fragmentos de histórias abertas a possibilidades de apropriação por parte de cada espectador. Sem a preocupação de fechá-las numa única interpretação, o autor opta por uma estrutura lacunar. De acordo com o modo como surgem dispostos em cena, os textos parecem caminhar da manifestação da subjetividade ao contundente impacto do caos da cidade grande sobre os indivíduos. O mundo externo ganha relevância crescente ao longo da encenação, atualmente em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, a julgar não “só” pelo material escrito como pela faixa sonora destacada no decorrer da sessão.
Mesmo considerando que a separação entre a estrutura e o conteúdo de uma obra seja um reducionismo, a montagem dirigida por Camila Gama e Sandro Pamponet prioriza o formalismo da cena em detrimento de uma aproximação entre os conflitos que assombram os personagens e os espectadores. As questões trazidas à tona nos textos – centrados, em perspectiva generalizante, na importância de perceber, respeitar e se dedicar ao outro – não reverberam de maneira particularmente vigorosa no público (com exceção da sensível interação entre os amigos em Era pra ser só uma Festa).
O estado de suspensão, os silêncios preenchidos, o texto do não-dito, se diluem em meio ao andamento acelerado do espetáculo. A montagem oscila entre a valorização do enigmático, do insinuado, e a evidenciação de um discurso claro, frontal, diante da plateia. De certa forma, esse contraste é realçado pelos diretores, mas o meio-termo entre os extremos faz alguma falta. Ainda assim, Frames propicia ao público uma experiência instigante.
Com cenografia (de Hugo Bonemer e Sandro Pamponet) e figurinos (de Rafael Menezes) básicos, neutros, a montagem tem na iluminação (de Renato Machado), que domina a espacialidade com tonalidades intensas, um elemento bastante expressivo. Daniel Rocha e Hugo Bonemer revelam sintonia e entrosamento, estabelecendo contracena fluente. Revezam-se em diferentes personagens sem recorrerem aos tradicionais vícios de composição.