15º Prêmio APTR em sintonia com o aqui/agora
A pandemia do coronavírus gerou mudanças abruptas no mundo. No caso do teatro, os efeitos foram radicais. Pelo menos num primeiro momento, quando a atividade foi interrompida. Os espaços fecharam e os artistas se viram sem a possibilidade de exercer o próprio ofício. Não demorou muito, porém, para que se organizassem em torno de apresentações virtuais. A alternativa suscitou algum questionamento em relação à validade dessa prática como teatro, uma vez que não havia como preservar determinados princípios – como o acontecimento presencial, ao vivo, entre atores e espectadores. Mas o fato é que, manifestação artística que precisa de poucos recursos, o teatro (ou o teatro viável em tempos de pandemia) ressurgiu graças ao aparato tecnológico.
Acompanhando esse novo modo de funcionamento, o Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro) seguiu adiante em formato diferenciado. Ao invés das tradicionais categorias, o prêmio, nessa sua 15ª edição, foi norteado por outras, sintonizadas com o aqui/agora: espetáculo inédito ao vivo, espetáculo inédito editado, espetáculo adaptado ao vivo, espetáculo adaptado editado. Dois quesitos foram mantidos – o Troféu Manoela Pinto Guimarães, que, destinado a jovens artistas que vêm se destacando na cena, começou ano passado, e o Prêmio Especial. Houve mais uma alteração significativa: o prêmio adquiriu alcance nacional, passando a contemplar trabalhos de todas as partes do Brasil, característica também ligada ao contexto atual, tendo em vista a oportunidade de atingir um público mais abrangente, na medida em que não circunscrito a cidade onde o espectador se encontra.
A diversidade, portanto, sobressaiu na premiação, ocorrida na noite da última quinta-feira, em cerimônia dirigida por Fernando Libonati e apresentada por Renata Sorrah e Marco Nanini. O júri – formado por Bia Radunsky, Carmen Luz, Daniel Schenker, Lionel Fischer, Macksen Luiz, Tania Brandão e Wagner Corrêa, além do colegiado da APTR – premiou trabalhos atravessados por propostas de linguagem distintas e realizados em diferentes regiões do país. Na categoria espetáculo inédito ao vivo venceram Jacksons do Pandeiro, musical, dirigido por Duda Maia, da Cia. Barca dos Corações Partidos (RJ), e Tudo que coube numa VHS, projeto sensorial da Cia. Magiluth (PE). O melhor espetáculo inédito editado foi Sigo de Volta (SP), conduzido por Leticia Cannavale. No quesito espetáculo adaptado ao vivo ganhou Contrações (SP), encenação de Grace Passô que incorporou a gramática tecnológica. Habite-me: teatro de máscaras, dança e bonecos (RS), dirigido por Paulo Balardim, e Processo Julius Caesar (RJ), interface cinema/teatro, a cargo de Rafael Gomes e com os integrantes da Cia. dos Atores, dividiram o prêmio de espetáculo adaptado editado. O Troféu Manuela Pinto Guimarães foi para o elenco de Negra Palavra Solano Trindade e o Prêmio Especial, a Fabio Porchat pelas iniciativas em prol do teatro.
A cerimônia foi marcada por discursos contundentes, tanto de Eduardo Barata, presidente da APTR, quanto dos artistas vencedores, a respeito da situação cada vez mais dramática enfrentada pelos artistas na atual conjuntura do país. A emoção imperou ainda nas oito homenagens prestadas a artistas e grupos emblemáticos do panorama teatral – às atrizes Léa Garcia e Camilla Amado, ao diretor José Celso Martinez Corrêa, ao diretor regional do Sesc/SP Danilo Santos de Miranda, às companhias Clowns de Shakespeare, Marginal e Bando de Teatro Olodum e ao coletivo As Travestidas – e na lembrança aos profissionais que morreram no último ano, muitos vitimados pela covid. Ao final, Renata Sorrah e Marco Nanini evocaram trechos de textos que interpretaram nos palcos – proposta do roteiro assinado por Daniela Pereira de Carvalho –, como A Gaivota, de Anton Tchekhov (Sorrah participou da montagem dirigida pelo argentino Jorge Lavelli), e Um Circo de Rins e Fígado (Nanini protagonizou a encenação de Gerald Thomas).