Teatralidade que favorece a imaginação
Tatá – O Travesseiro, espetáculo da Artesanal Cia. de Teatro que encerra temporada no Teatro II do CCBB (Foto: João Julio Mello)
O palco é um espaço geograficamente limitado, que restringe as possibilidades de realização de pirotecnias técnicas por mais que uma determinada vertente do teatro confronte esse impedimento por meio da aposta em efeitos tecnológicos. Não é o caso da Artesanal Cia. de Teatro, que, em Tatá – O Travesseiro – espetáculo que encerra temporada amanhã no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) –, investe na teatralidade.
Para contar a história do menino Lipe em sua busca pelo travesseiro de estimação, o grupo opta por recursos simples, mas eficazes no estímulo à imaginação do espectador. Demonstra que, no teatro, os objetos não precisam permanecer atados aos seus significados literais. Assim, uma cama – principal elemento da cenografia de Karlla de Luca – pode ser rapidamente transformada num navio ou numa nave por meio de discreta, mas eficiente, manipulação.
O público tende a embarcar no mundo imaginário de Lipe e a ilusão da proposta não é rompida pelo fato de os atores – Alexandre Scaldini, Edeilton Medeiros, Lívia Guedes, Marcio Nascimento, Marise Nogueira e Tatá Oliveira – aparecerem bem destacados por trás dos bonecos, manipulando-os. Apenas o personagem do pirata é interpretado por um ator com rosto coberto. O corpo desse ator está, portanto, inteiramente engajado, dissolvido, na interpretação do personagem. Mas, mesmo quando os corpos dos atores e dos personagens surgem separados, há evidente comprometimento dos primeiros na concretização dos últimos. A imagem dos atores é neutra, de modo a realçar a expressividade dos bonecos, mas não as vozes, compostas para imprimir personalidades às personagens.
Tatá – O Travesseiro insinua alguma concessão ao efeito, a exemplo da sugestão de movimento por meio do lusco-fusco da luz. Nada porém, que ameace a natureza lúdica da encenação, evidenciada na conexão com técnicas artesanais, como o teatro de sombras e a própria filiação ao teatro de bonecos – aqui, bonecos em tamanho real (a cargo de Bruno Dante), com metade dos corpos materializada e a outra, ausente, encoberta por figurinos longos e esvoaçantes.
Com exceção do efeito mencionado, a iluminação de Poliana Pinheiro e Rodrigo Belay, marcada por cores intensas, favorece a suspensão do real na jornada de Lipe – uma jornada, contudo, atravessada por pertinentes temas da realidade. Andréa Batitucci, Gustavo Bicalho e Patrícia Von Studnitz assinam um texto econômico na quantidade de falas (há cenas sem texto), com inclusão do procedimento da voz em off, que expande o arco temporal da história, uma vez que está ligado, pelo menos a princípio, à narração de uma experiência vivenciada. Através dessas características cênicas, o espectador acompanha o desdobramento das questões de Lipe, menino negro adotado que se depara com o divórcio dos pais. O travesseiro, que preserva os sonhos do garoto, simboliza o valor afetivo.