Proximidade em questão
Alexandre Lino, Rose Germano, Erlene Melo e Paulo Roque em Nordestinos, montagem de Tuca Andrada em cartaz no Teatro Sesi (Foto: Janderson Pires)
O diretor – Tuca Andrada – e os atores – Alexandre Lino (autor do livro que serviu de base à encenação, que conta com dramaturgia de Walter Daguerre), Erlene Melo, Paulo Roque e Rose Germano – são artistas nordestinos que, portanto, abordam, na montagem em cartaz até o próximo domingo no Teatro Sesi, um universo familiar. Mas, ao invés de discorrerem sobre as suas próprias vidas, trazem à tona uma compilação de jornadas de outros, possivelmente cientes de que “as realidades de alguns são as de muitos”.
Assim, apesar de, em dados momentos, portarem a primeira pessoa, os atores se dedicam, durante a maior parte do tempo, a trabalhos de composição, devidamente realçados com o intuito de distinguir cada um dos personagens. Há uma espécie de movimento contrário: se por um lado os atores estão próximos do mundo descortinado, por outro se engajam em atuações estilizadas que, de certo modo, frisam distâncias, a julgar pela preocupação em sublinhar sotaques, em enveredar por um tom caricatural. Mesmo quando fala em primeira pessoa, o elenco assume a atuação, um registro longe do depoimento desarmado.
A temperatura das atuações visa ao humor, ingrediente comum nas trajetórias de migrantes – entre elas, a de uma moça que engravidou na adolescência, foi abandonada pelo namorado e acabou se casando com um homem rude e a de um rapaz alvo de preconceito da supervisora do MacDonalds, onde se emprega pouco depois de chegar ao Sudeste –, que talvez pudessem ser entrelaçadas de forma mais direta na dramaturgia. Também há espaço para comentários ligeiros relacionados às especificidades de vários nomes.
Tuca Andrada procura valorizar o artesanal e o popular por meio de manifestações como o teatro de sombras e o de bonecos, recursos amplamente presentes no decorrer da sessão. O diretor extrai desempenhos equilibrados do elenco e imprime unidade estética, perceptível no entrosamento entre os diversos componentes da cena. O cenário de Karlla de Luca tem como elementos principais painéis de tonalidade terrosa, mais queimada nas laterais, preenchidas com bordados. Na parte final do espetáculo, a estrutura cenográfica é revelada com simplicidade. Os figurinos, a cargo de Luca, evidenciam constância cromática e investimento em sobreposição de rendas. A iluminação de Renato Machado integra o conjunto com harmonia através de cores quentes.
Montagem que começou a ser apresentada dentro da programação da última edição do Tempo_Festival, Nordestinos, ainda que suscite tensionamentos, conquista o público pela simpatia da realização, dotada de méritos artísticos.