Maria Della Costa: atriz singular
Maria Della Costa na montagem de Flávio Rangel para Depois da Queda, de Arthur Miller
O teatro brasileiro perdeu uma profissional de primeira grandeza no último sábado. Mesmo afastada do ofício de atriz, Maria Della Costa marcou a cena do país, conforme pode ser constatado na minuciosa biografia escrita por Tania Brandão (Maria Della Costa – Uma Empresa e seus Segredos, lançada pela editora Perspectiva). No livro, a autora traz à tona a inestimável contribuição da atriz e da companhia que liderou – o Teatro Popular de Arte (TPA), fundado em 1948 em parceria com o marido e empresário Sandro Polônio e rebatizado de Companhia Maria Della Costa (CMDC) em 1954, a partir da inauguração do Teatro Maria Della Costa. Tania Brandão realça a relevância da companhia, que teria sido encoberta pela trajetória do Teatro Brasileiro Comédia (TBC), mantido por meio de estratégia parecida: a alternância entre repertório dramatúrgico consistente (para garantir a respeitabilidade do empreendimento, iniciativa determinante no começo do teatro brasileiro moderno) e comercial (visando à sobrevivência econômica).
Ao longo de sua carreira, Maria Della Costa integrou montagens de textos ocasionalmente ousados, importantes (Mirandolina, de Carlo Goldoni, A Casa de Bernarda Alba e Bodas de Sangue, de Federico Garcia Lorca, A Alma Boa de Setsuan, de Bertolt Brecht, Depois da Queda, de Arthur Miller, As Alegres Mulheres de Windsor, de William Shakespeare, entre tantos outros), com algum destaque para a dramaturgia brasileira (Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, Gimba – Presidente dos Valentes, de Gianfrancesco Guarnieri). Trabalhou com diretores estrangeiros, que influenciaram decisivamente nos rumos da cena nacional – Ziembinski, Ruggero Jacobbi, Flamínio Bollini Cerri, Maurice Vaneau, Alberto D’Aversa, Gianni Ratto (que Maria e Sandro trouxeram da Itália) –, e com brasileiros promissores – Flávio Rangel. E deu a Fernanda Montenegro, então atriz de sua companhia, uma primeira grande oportunidade ao permitir que fizesse o papel principal na montagem de A Moratória, de Jorge Andrade, assinada por Ratto, em 1955.